Se você é criador, certamente este artigo será muito útil para seus trabalhos genéticos com os bettas.
Exemplar Black Copper sem o traço mármore, como desejado
Exemplar Black Copper com o traço mármore atuando (não desejado)
Vamos a um fato: depois que o criador estudou, praticou e já entende o manejo reprodutivo, é natural que desenvolva o desejo de obter bettas belos, com fenótipo estável e replicável. Afinal, o animal é belo por sua estética e comportamento.
Vamos explorar um pouco deste processo no mundo dos bettas neste artigo, destacando aqui a problemática destes genes para a obtenção de bettas de linhagem.
Você está comprando bettas instáveis para reprodução?
Nós, do Betta Project, atribuímos a classificação "instáveis" para aqueles bettas que possuem o gene mármore e/ou red loss.
É um gene dominante, ou seja, os genótipos MbMb e Mbmb ou RlRl e Rlrl caracterizam sua presença no DNA do betta, cujos traços e seus efeitos no fenótipo estudaremos aqui.
É um gene nefasto, que acaba com qualquer trabalho genético em que você está buscando visando beleza estética em bettas no quesito cores e arranjo de cores.
As vezes são bettas lindos, as vezes bettas com pouca beleza estética frente ao que se pode obter com este animal.
O mercado mundial está com grande oferta destes animais, justamente pelo seu consumo e desinformação por parte dos hobbystas. Saiba que você pode extrair mais deste belo animal! Aliás, a criação seletiva é algo de séculos entre o Homem e animais, especialmente os bettas de que aqui tratamos.
Características dos traços mármore e perda de vermelho no fenótipo: o processo de mutação
Há bettas que você consegue facilmente identificar a presença de um destes traços já atuando. É o processo de mutação nos bettas.
De acordo com o que você também poderá pesquisar na web, temos um trecho com a elucidação deste conceito. Vejamos:
"No início desse século, o biólogo holandês Hugo de Vries propôs o conceito de mutação a partir do estudo da hereditariedade de uma planta. O biólogo observou que vez ou outra surgiam características novas em algumas plantas...
... ele concluiu que essas modificações eram causadas por alguma mudança brusca e casual de um gene, e que a partir de então eram transmitidas a seus descendentes."
Talvez você já tenha ouvido sobre a mutação em bettas. Saiba que isto não é desejado se você quer obter linhagens de bettas. Consulte os artigos abaixo indicados para mais informações sobre linhagens de bettas.
Como assim, mudança casual e brusca de um gene no processo de mutação? Uma visão nos bettas.
É fundamental entendermos que beleza estética do betta é dada por suas cores, arranjo de cores e formatos, onde:
Cores: são as cores em si (azul, vermelho, laranja, preto, amarelo, verde e assim por diante).
Arranjo de cores (ou distribuição de cores): consiste na distribuição das cores ao longo do corpo do animal. Lógico, se for um betta classificado como "sólido", terá apenas uma cor.
Formatos (ou shape): consiste nas características da nadadeiras, corpo, tamanho destes, e assim por diante. Como classificação bem simples aqui podemos citar bettas crown tail e borda lisa, por exemplo.
Caso tenha interesse em saber mais sobre estas variáveis na análise do fenótipo de seus bettas, consulte também nosso ebook - é gratuito; um material que mostra as classificações quanto ao arranjo de cores.
Um betta sólido possui uma única cor do corpo e nadadeiras. Há também os bicolores, multicoloridos comuns, multicoloridos instáveis (este é o assunto deste artigo) e multicoloridos especiais.
É um tema ainda controverso mundialmente, visto que a denominação "instáveis" não é ainda absorvida ou conhecida pela totalidade da população de criadores.
Bettas com gene mármore (marble) ou perda de vermelho (red loss) possuem as seguintes características:
Mais de uma iridescência (a opacidade não entra aqui, ok?). A título de exemplo, veja o blue dragon e/ou blue rim: um betta azul com corpo opaco (opacidade exacerbada);
Cores pigmentadas dos grupos vermelho e não-vermelho, senão vermelho sangue, concomitantes no fenótipo do betta (amarelo comum e laranja, senão ainda vermelho e amarelo comum, ou então vermelho sangue e pineapple) - primeiras duas duplas do grupo de não-vermelhos e a última do grupo vermelho sangue;
Cores descontinuadas no corpo ou nas nadadeiras, exceto infiltrações radiais;
Entendendo melhor o processo de mutação em bettas: a atuação dos genes mármore e red loss
Os jumping genes nos bettas (gene mármore e perda de vermelho, especificamente) fazem exatamente o que é afirmado na penúltima seção. Veja um exemplo prático, que é o que propomos aqui no Betta Project: a genética para fins práticos, dentro de condições de contorno, ou premissas, palpáveis e conhecidas.
Estágio 1: Black Dragon. Um lindo black dragon na foto abaixo.
Estágio 2: Black Dragon já apresentando falhas no arranjo de cores. Tempos depois, a mutação começa a se manisfestar, onde cores e (geralmente) arranjo de cores se alteram aleatoriamente. Ou seja, não há previsibilidade alguma do que vai acontecer.
Conhece a frase "puxe o freio de mão!"?
Pois bem, aqui é importante salientar que, nos bettas, a mudança de cores e/ou arranjo pode ou não ocorrer durante a vida do animal. O correto é ter o histórico genético de suas matrizes (se há ou não marmorização ou perda de vermelho na ninhada, nos pais e mesmo nas ninhadas subsequentes).
Voltando ao black dragon iniciado: apresentação de falhas no arranjo de cores
Estágio 3: O comercialmente nomeado “Black Samurai”: um betta instável atrativo, mas que tem o gene mármore causando o processo de mutação.
Estágio 4: O comercialmente nomeado “Black Mamba”.
Estágio 5: Sem nome comercial que conheçamos. Chamaríamos de Pinguim?
Estágio 6: Super Black.
Estágio 7: Betta com fenótipo perdendo a pigmentação preta. Desconhecemos um nome comercial.
Estágio 8: O comercialmente nomeado “Black Fancy”.
Estágio 9: Cellophane. Totalmente descaracterizado do black dragon, não apresenta mais vestígio algum da cor negra. Você o acha atrativo? Saiba que você pode fazer mais que isto.
Veja que a beleza destes bettas ao longo da vida é temporária. Ou seja, a cada novo ciclo de atuação, o fenótipo passa por mudança em suas cores e/ou arranjo de cores.
Lembre-se: a problemática é que estes dois genes (dominantes, inclusive) tendem a acabar com seu trabalho genético de meses ou anos, senão décadas, quando identificados no fenótipo de suas ninhadas ou matrizes.
Nota: este processo pode cessar, continuar até o cellophane e/ou prosseguir com novas cores e arranjo de cores. Ou seja, os resultados são aleatórios quanto se tratar da beleza estética (cores e arranjo destas) para um mesmo exemplar.
Talvez pelo seu tempo de criação de bettas ninguém tenha informado.
Mas saiba que sim, há como prever resultados na ausência de marmorização e perda de vermelho.
Seu betta "marmorizou", ou perdeu/ganhou cores?
Use como pet, não reproduza. Somos desta opinião.
Não tem jeito... se você quiser se dedicar ao estudo da genética para exemplares lindos, e também estáveis e replicáveis, deverá se desfazer destes bettas para fins de reprodução. É uma dicotomia, infelizmente.
Há centenas de outras opções. Continue em frente!
Arranjos de cores com traços mármore e/ou perda de vermelho: exemplos típicos com a presença destes traços que causam a mutação e possuem nome comercial
O processo de marmorização e perda vermelho são aleatórios, como já vimos. Surgem na ninhada, as vezes, de uma hora para outra. São imprevisíveis, nefastos e acabam com qualquer trabalho genético. O que fazer? Infelizmente, voltar uma geração, fazer o manejo correto de linhas de sangue e voltar a antepassados que não tiveram este comportamento. Emerge, a partir disso, a necessidade de controle genético!
Infelizmente, bettas com marmorização e/ou perda de vermelho estão se tornando muito comuns mundo afora.
Ou seja, criadores continuam mantendo estes bettas para reprodução, troca e comercialização.
Daqui a algum tempo, talvez não consigamos mais obter bettas de linhagem, visto que todos estarão com este(s) gene(s) em seu DNA. A opção será voltar aos selvagens - acreditamos, senão buscar matrizes de muito longe e/ou de criadores que já tiveram esta consciência, para se obter linhagens.
Exemplos de nomes comerciais instáveis:
Betta Koi
Betta Fancy (Black Fancy e fancys de maneira geral)
Betta Black Mamba
Betta Black Samurai
Betta Vanda
e tantos outros nomes comerciais que você eventualmente já viu na web, que são "fotos", por vezes lindas, da beleza que este peixe pode ter, geram indivíduos com potencial mutação em gerações subsequentes, perdendo seu valor agregado tempos depois de sua troca/comercialização.
Destacamos aqui que não somos contra criadores que levam estes fenótipos com nomes comerciais adiante, apresentam-os em exposições mundo afora.
Saiba que há casos em que o peixe pode mudar de cor ou arranjo de cor durante o transporte, que tende a gerar stress nos animais, e é um potencial causador (gatilho) para este fenômeno.
No entanto, estes processos não possuem, até onde sabemos e pudemos constatar in loco, na criação, causas comprovadas que levam ao processo do gatilho de atuação destes traços, manifestando-se no fenótipo dos bettas.
O desejo de todo criador: bettas lindos, estáveis e replicáveis ao longo de gerações
Quando admiramos e desejamos determinada coisa (neste caso um betta como pet para posterior reprodução, como matriz, senão já matriz destinada para reprodução obtida por troca com outro criador ou compra), o animal passa a ter demanda. Na lógica do consumo, onde há demanda, potencialmente há oferta. Quanto maior a demanda, maior o preço do item/produto. A tão antiga lógica do consumo...
Então... vamos a um exemplo. Digamos que você goste de bettas gold (super em moda agora), talvez um betta dragon (seja qualquer um deles) e você pagou por ele. São lindos!
Pense agora: será que a maioria dos criadores deseja manter bettas apenas para consumo de recursos (tempo, infra-estrutura, dedicação, dinheiro e outros)?
Você pode fazer mais do que isto!
Note: você pode. Não estamos dizendo aqui que você deve fazê-lo, ok? A opção é do criador (sua). E cabe a cada um fazer o que quiser com seus animais, dentro da responsabilidade e Leis que regem cada país ou região.
Mas, voltando e respondendo a última pergunta (sobre consumo de recursos, tais como tempo, dinheiro, espaço, dedicação).. somos da opinião que não é só consumo de recursos que gera satisfação. O estudo da genética gera também satisfação, abre horizontes e, inclusive, agrega valor aos exemplares - os ditos animais de exposição (quando há critérios, não é verdade?).
O estudo da genética amplia o horizonte na criação de qualquer animal
O estudo para seleção de matrizes (o betta é muito prolífero e ninhadas sem beleza estética não são desejadas em nossa opinião) é muito gratificante para criadores que realmente se dedicam. Consulte nossa Estratégia para o Desenvolvimento de Bettas com Genética Superior, um vídeo com mais de 10 anos que publicamos e mostra exatamente esta problemática, fazendo com que criadores desistam do hobby de bettas, visto que aqueles lindos bettas expostos na web ou outro local não são atingíveis (e isto para outras espécies de animais ou peixe ornamental, como o Acará-Disco, que possui maior valor agregado no aquarismo dulcícola, senão ainda bettas diferenciados).
Neste artigo também trazemos informações. A imagem abaixo ilustra exatamente a sistemática que propomos neste projeto, o Betta Project - A DNA Experience.
Note que estes traços, com característica de mutação, estão super difundidos no mundo. Por que os bettas os tem ou "são assim"? Você já pensou nisso?
Imagine a população de bettas sem estes dois genes. Seria interessante na nossa opinião, e mais consistente para se obter animais lindos, senão de linhagem.
Estes dois genes, ora concomitamente ou não atuando nos bettas, são um problema sistêmico que vem ocorrendo e muitos não deram a devida atenção.
Se você consultar na web sobre os traços mármore (essencialmente, pois este é o mais difundido) e perda de vermelho, verá que as referências indicam o termo jumping gene, que é justamente o causador da mutação.
Não há uma história concreta e comprovada (Científica) de como este gene surgiu nos bettas. Acreditamos que o cruzamento destes com algum outro peixe gerou os bettas com instabilidade de cores e arranjo de cores (os como assim nomeamos instáveis), assim como teoria sobre o surgimento dos bettas long fin (veja este video, que trata justamente disto). Mas isto é uma hipótese apenas.
A título de exemplo: fêmeas melano não são férteis em bettas. Isso ainda poderá mudar dada a mistura que os humanos estão fazendo em cativeiro com bettas assim domesticados. Acreditamos nisso.. E os super black? Ficam aqui as questões técnicas envolvidas como pergunta..
Ainda, somos da opinião que de nada adiantaria ter 300 bettas sem beleza estética e sem propósito (um objetivo a atingir). Acreditamos que isto seja primordial depois de certas etapas vencidas no processo de criação ao longo do tempo.
No fim das contas, você cuidou de 300 peixes, comprou aquários, se desfez de todos (vendeu, trocou, presenteou) e talvez desanimou, pois os peixes estão muito aquém do objetivo, mas com saúde.
Somos da opinião de que peixes com marmorização e/ou perda de vermelho devem ser mantidos apenas como pet.
Mas por quê? Porque sua reprodução levará apenas a mais bettas no plantel muindial com instabilidade do fenótipo da própria matrizes ou geração futura.
Conclusões
Não queremos criar polêmica. Somos bem enfáticos nisso.
A questão é que estes genes não deveriam estar no DNA, mas estão!
Você deverá fazer cruzamentos de teste e saber fazer o manejo de linhas de sangue para se livrar deles caso queira desenvolver linhagens. O estudo da genética amplia seu horizonte na criação de bettas - e isso garantimos a você! Fuja destes genes. Este é o nosso conselho.
Fuja destes genes. Este é o nosso conselho.
Resumo
Ambos os traços (marble e red loss) causam instabilidade na beleza estética do betta, descaracterizando todo um trabalho realizado, alterando suas cores durante a vida do betta e/ou surgindo em ninhadas subsequentes. São verdadeiros complicadores para o desenvolvimento de linhagens de bettas, visto que acabam com o trabalho e dedicação na atividade.
Temos um artigo que trata do termo “Bettafilia”, onde indicamos a necessidade dos bettas serem amados e criados de maneira organizada e padronizada como cães, na cinofilia.
No caso dos bettas, há muito ainda que deve ser difundido em termos de informação e conhecimento, mundialmente, para que um nível melhor do plantel de bettas possa ser atingido. Conheça o artigo “Bettafilia”: amor e carinho pelos bettas? Nosso maior desejo com os bettas, associando à cinofilia.
Ainda, temos conteúdo em vídeo abordando o assunto dos multicoloridos instáveis. Veja abaixo.
Lembre-se, portanto, que os genes mármore e red loss, quando presentes no DNA do betta, denotam, essencialmente, instabilidade nas cores e no arranjo de cores, podendo ou não se manifestar no fenótipo durante a vida do betta. São, portanto, nefastas características que devemos sempre eliminar de nossos cruzamentos e seleção de matrizes.
Fato[1]: peixes de maior valor agregado são estáveis, pois mantém sua beleza ao longo de gerações.
Fato[2]: temos quase 15 anos com este projeto de resgate de linhagens e outras frentes (vide a página QUEM SOMOS). Temos consciência de que o mercado está demandando - e muito - bettas instáveis, porém há muito mais o que se pode fazer com os bettas.
Fato[3]: a existência destes genes no DNA não é culpa sua ou do criador. Há situações em que ele nem sabe que seus bettas possuem estes genes. Cabe a você observar irmãos do seu exemplar de mesmo pai e mãe para ter esta informação.
Dica: troque informações e histórico genético, além da observação dos irmãos, com o criador que lhe forneceu a matriz.
Comprou um betta sem procedência? Faça cruzamentos de teste e observe a se há presença destes traços. Você terá uma amostra de mais de 50 indivíduos.
O conhecimento da genética resulta em um hobby ainda mais instigador para pessoas curiosas e que buscam um objetivo além do manejo. Temos know-how de mais de 40 anos nesta linha de trabalho.
Nossa visão é encantar criadores com a criação seletiva de bettas.
Bettas instáveis, se perpetuados, não requerem seleção, infelizmente, pois esta se torna nula frente à aleatoriedade na alteração das cores e arranjo de cores.
Dica: marmorizou? Mudou de cor? Use como pet. Não reproduza. Só assim iniciaremos, gradualmente, a melhoria da qualidade-base do plantel de bettas mundialmente. A partir dela, se desenvolve linhagens.
Referências
Arquivo interno Betta Project
Imagens da Internet
Indicações no corpo do texto
Curso sobre a Genética do Betta
Já pensou em estudar a genética do betta com fins práticos a fundo? Em nosso Curso sobre a Genética do Betta apresentamos e explicamos estes traços detalhadamente, esmiuçando e exemplificando ainda mais suas características. Conheça!
Boa sorte com seus bettas!
Referências:
[1] Arquivo interno Betta Project.
[2] Imagens da Internet.