Nos mais de 50 anos dedicados ao estudo da genética do Betta, Vitor Calil Chevitarese apresenta neste artigo (e por meio de nosso Curso sobre a Genética do Betta) os indícios que apontam para a existência de um novo pigmento e propõe uma modelagem genética para fins práticos nas estufas de criadores de bettas.
Veja que interessante isto pode ser em suas linhagens de bettas!
Um novo pigmento nos bettas
Os bettas que conhecemos em aquários possuem cores (e sua distribuição) muito variadas. Genes atuam na sua fixação ou mesmo instabilidade, permitindo a alteração do fenótipo ao longo da vida do betta – o que é indesejado para criadores que buscam estabilidade nos melhoramentos de suas linhagens.
Os bettas domesticados que conhecemos hoje são fruto do cruzamento entre diferentes espécies do gênero Betta. Ou seja, são híbridos férteis estética e comercialmente muito atrativos.
Nesse sentido, um novo pigmento vem atraindo a atenção dos criadores, o qual denominaremos BLOOD ou VERMELHO SANGUE.
O betta atual: um híbrido fértil
A criação seletiva de bettas é algo que ocorre com início sem precedentes. Todas as características visuais (cores, arranjos de cores e formatos) possuem Modelagens Genéticas, algumas das quais ainda são da década de 1960, idealizadas pelo pesquisador Gene Lucas e outros. Apresentaremos aqui novo complemento a elas.
O betta domesticado, encontrado em exposições é fruto do cruzamento entre o Betta imbellis, o Betta smaragdina, o Betta mahachaiensis, o Betta simorum e outras, resultando em verdadeiras jóias vivas.
O paradoxo na modelagem genética dos não-vermelhos
A modelagem mundialmente aceita para a pigmentação vermelha nos Bettas se mostra ineficaz para explicar a questão que trataremos neste artigo: o pigmento vermelho sangue existente na coloração dos Bettas atuais.
Verifica-se esse novo tipo de coloração vermelha nos primeiros Red Dragon que surgiram no mercado mundial. A foto abaixo ilustra com um exemplo.
Verifica-se a cor vermelha com tonalidade escura, a qual intitulamos “vermelho sangue” (ou “vermelho vinho”).
A qualidade do tom vermelho existente em alguns Bettas Red Dragon (como o exemplar da foto acima) é diferente daquela que encontramos nos Bettas vermelhos tradicionais (os vermelhos cereja).
A primeira questão que muita gente não entende é o porquê de o gene ligado ao pigmento vermelho comum ser atribuído Nr, e não Rd (de Red, que significa “vermelho”, em inglês), por exemplo.
Isto ocorre porque Gene Lucas somente queria frisar que a cor amarela era resultado da própria recessividade do gene vermelho, e não da ação de um gene “amarelo”, por exemplo (Yw, de yellow, que significa “amarelo” em inglês).
Importante
Do ponto de vista da nomenclatura da genética utilizada nos modelos de trabalho, tudo relacionado à recessividade utiliza letra minúscula, e quando se está referindo à dominância, utiliza-se a letra maiúscula.
Como o “amarelo” representava o estado recessivo “não-vermelho”, seu genótipo seria nrnr. Logo, a presença da cor vermelha passou a ser representada quando pelo menos um dos genes do alelo fosse Nr.
Dessa forma, tem-se os três genótipos da modelagem inicial (década de 1960) que definiriam as presenças de vermelhos e amarelos:
Nr Nr – vermelho homozigoto (ou seja, os dois alelos são iguais) Nr nr - vermelho heterozigoto (ou seja, os dois alelos são diferentes) nr nr – não vermelho (recessivo) – seriam os amarelos
Todavia, Gene Lucas não estava preocupado em classificar cada um dos demais arranjos de cores (diferentes dos tradicionais amarelos) que começaram a surgir do acasalamento entre vermelhos heterozigotos Nrnr, ou entre vermelhos heterozigotos, e amarelos nrnr.
Começaram a surgir os bicolores pineapple e chocolate, e mais tarde, durante a década de 1990, os alaranjados, e os rosados (não confunda estes últimos com os bicolores cambojas, que possuem outra modelagem genética).
Portanto, tanto os rosados, os alaranjados, os pineapples, os chocolates, e os próprios amarelos, sem exceção, serão nrnr no modelo proposto por Gene Lucas.
Veja as fotos mostradas abaixo.
Questão: este novo vermelho seria realmente um novo pigmento?
Conforme afirmado anteriormente, para a coloração vermelho-vinho dos primeiros Bettas Red Dragon haveria uma nova hipótese: uma modelagem diferente do vermelho cereja tradicional.
Isto se comprovou quando este vermelho começou a se manifestar em alguns bettas, juntamente com o tradicional amarelo, os chocolates, e os pineapples.
Os fenótipos dos Bettas Plakat abaixo apresentam esta característica:
Existem as cores amarela e vermelho sangue (ou vinho) se manifestando juntas no betta.
De acordo com o modelo tradicional sugerido por Gene Lucas, o betta é vermelho (NrNr, Nrnr) ou não-vermelho (nrnr). Ou seja, ou um, ou outro - nunca os dois ocorrendo simultaneamente.
Portanto, verifica-se a necessidade de modificar e ampliar o modelo tradicional. No modelo tradicional só existem os genes Nr e nr concorrendo dentro de um mesmo lócus no DNA do Betta, definindo uma única cor (ou vermelha, ou não-vermelha).
Lembre-se que em cada lócus haverá apenas um par de genes (NrNr, Nrnr, ou nrnr).
Questões:
a) Como definir as duas cores (a do novo vermelho, e a de não-vermelho) trabalhando juntas?
Torna-se evidente que é necessário um segundo par de genes para sua modelagem, juntamente com o par Nr/nr.
b) De acordo com o modelo universalmente aceito para os vermelhos e não vermelhos como isso pode ser possível?
A única explicação é que esses Bettas, por serem o resultado de cruzamentos entre espécies diferentes de Bettas (ou seja, são híbridos férteis), têm em seu DNA genes apresentando diferentes tipos de pigmentos vermelhos e não-vermelhos, cada qual coexistindo em um lócus específico.
Proposição de modelagem genética para o gene vermelho-sangue em bettas
Os tradicionais genes (Nr) e (nr) existentes na modelagem atual continuariam responsáveis pelas presenças tanto do pigmento vermelho cereja, quanto dos não-vermelhos.
Ao final, teremos outro tipo de pigmento vermelho (que tratamos aqui e nomeamos como vermelho sangue), representado pelos alelos Sg e sg. Lembre-se que são alelos originados de uma espécie diferente do Betta splendens que contribuíram na formação do híbrido fértil que conhecemos.
Veja esse Orange infiltrado com vermelho sangue (o chamado Orange Dalmatian).
Este betta possuirá os alelos nrnr (referente à coloração alaranjada), e um par residente no outro lócus Sg/sg, que poderá ser SgSg, Sgsg, ou sgsg.
Como a nossa intenção nesse artigo é chamar a sua atenção para essa nova realidade, não entraremos na análise e discussão desses novos traços e a sua modelagem prática.
Caso deseje saber como trabalhar com esses modelos práticos, ingresso em nosso Curso sobre a Genética do Betta, acessando nosso site (www.bettaproject.com).
Boa sorte com seus Bettas!
Referências:
[1] Arquivo interno Betta Project
[2] Imagens da Internet